Entrevista homeopática

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Entrevista publicada no Jornal da Associação Médica Homeopática de Minas Gerais em 1992

1) Nome completo, ano de formatura, ano de inicio do exercício da Homeopatia.

Gilson Teixeira Freire, formei-me em Medicina em 1980, na UFMG, e em Homeopatia na Escuela Médica Homeopática Argentina, iniciando sua prática em 1983.

2) Como você se interessou pela Homeopatia? Conte sua história de entrada na Homeopatia.

Interessei-me pela Homeopatia depois que um parente decidiu tratar-se com ela de uma grave nefrite lúpica, abandonando o tratamento convencional. A despeito de minha expectativa e temor, ela teve uma evolução surpreendente, convencendo-me da excelência da medicina de Hahnemann.

3) Porque você se interessou por estudar e/ou cursar Homeopatia?

Eu já possuía uma visão espiritualista/vitalista da vida e a filosofia homeopática veio somente completar os pensamentos que já trazia comigo.

4) O que possibilitou sua prática em Homeopatia?

O excelente curso que fiz e minha exclusiva dedicação à ela, abandonando minha antiga participação na medicina oficial. Eu trabalhava com nefrologia e clínica médica, tinha leitos no hospital São Bento e dava plantões em CTIs de alguns hospitais de nossa cidade.

5) Você considera que o momento político da saúde nos finais dos anos 70 influenciou a retomada da Homeopatia?

Sem dúvida, houve, junto com a abertura política do país, uma maior aceitação da prática homeopática. Sobretudo depois da política de saúde do ministro da Previdência Social, Valdir Pires, em 1984. Ele era um paciente curado pela Homeopatia e, simpatizando-se com o movimento de renovação promovido por essa Medicina, abriu a participação dos médicos homeopatas ao sistema de saúde pública do país, embora com muitas restrições, mas já representando um impulso importante para a difusão dessa ciência médica em nosso meio.

6) Você pratica desde quando?

Com já disse, desde 1983.

7) O que você acha que obstaculiza, obstaculizou a prática e a expansão da Homeopatia? Desde o final da década de 70 para cá. Ou você acha que foi só facilidade?

Os obstáculos maiores a meu ver continuam sendo a dificuldade de aceitação de um atendimento hospitalar por parte dos médicos alopatas, momento em que, comumente, um paciente se vê obrigado a abandonar o tratamento homeopático.

8) A que você atribui a elevação do número de profissionais homeopatas em Belo Horizonte, de 1975 pra cá?

O grande sucesso e a enorme procura por um atendimento homeopático, atraindo profissionais que viram nessa prática, não só uma forma mais digna de se tratar o paciente, mas também uma boa opção econômica para o difícil exercício da medicina convencional e seu sistema de exploração do profissional de saúde.

9) Como você vê a inserção da Homeopatia no serviço público?

Com muitos bons olhos, favorecendo um atendimento homeopático para quem não pode alcançar a Medicina elitizada, em que, infelizmente, se converteu a Homeopatia de consultório. Naturalmente que as peculiaridades do atendimento homeopático não podem ser prejudicas em favor de um atendimento de massa, obstaculizando-se os seus excelentes serviços que somente podem ser alcançados mediante uma prática unicista.

10) Você acompanhou a inserção da Homeopatia no serviço público, em Belo Horizonte? Sabe como aconteceu? Críticas e pontos positivos? 

Infelizmente não pude acompanhar de perto, mas somente encontrei elogios à forma como vem sendo feita.

11) O que você pensa de a Homeopatia ser considerada medicina alternativa?

Apenas uma questão de evolução do pensamento humano. Muitas novidades do passado eram consideradas paralelas e posteriormente se tornaram oficiais. Assim evolui a história e o homem.

12) Como você vê a aceitação e/ou resistência à Homeopatia por parte do público e da classe médica desde o início da prática, aqui em BH?

Felizmente, a despeito da resistência de muitos colegas, há um convívio amistoso entre ambas as opções médicas, pois aqui, a Homeopatia, ao contrário de outros países, contou com o indispensável apoio do Conselho Federal de Medicina. Apenas considero que ela é desconhecida e por isso muito mal compreendia.

13) Em que o Congresso brasileiro de 1992, realizado em Belo Horizonte, contribuiu e ampliou para a Homeopatia em Minas?

Certamente ajudou a divulgá-la, mas não sei avaliar até que ponto isso se deu.

14) Qual a participação dos homeopatas de Belo Horizonte na formação da AMHB?

Acredito que tem sido satisfatória, embora ainda precise ser mais efetiva. Não tivemos ainda um presidente mineiro.

15) O reconhecimento da Homeopatia como especialidade médica/farmacêutica a prática da mesma para você?

O reconhecimento é importante, pois o aval da sociedade se baseia em postulados oficiais.

16) O que você acha que pode ser feito para que a Homeopatia seja legitimada ainda nos dias de hoje?

Contar com profissionais que a valorizem, praticando-a dentro dos restritos postulados unicistas que a norteiam, coibindo assim o seu uso indiscriminado por práticos que não detém os delicados meios de sua correta aplicação.

 17) Você chega a acreditar que por ser o paradigma homeopático tão diferente do alopático era necessário existir faculdade de Homeopatia separada?

Não, penso que ela deve se inserir no contexto vigente, desde que a Homeopatia tem uma decidida opinião sobre o proceder médico. Sendo separada, poder-se-ia legitimar a prática supressiva como um procedimento genuíno e a Homeopatia continuaria sendo simplesmente apenas mais uma opção de tratamento. Ela deveria se insinuar, inicialmente, como uma cadeira acadêmica optativa nas faculdades, e com o tempo poderia crescer a ponto de absorver todo o pensamento médico, dando filosofia à Medicina, coisa que ela não possui.

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