Senda Redentora - Apresentação

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"No cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram" - O Espírito de Verdade (O Evangelho S. Espiritismo)

Em trânsito pela ribalta terrena, o espírito é incapaz de antever com clareza a grande realidade em que se acha imerso. Portando uma mente acanhada, abafada pelas vestes carnais, envolvido pelas necessidades de sobrevivência e ameaçado pelas adversidades naturais de seu caminho, ele não conhece sua origem, ignora sua natureza e não percebe sua real destinação. Quis o Senhor que assim trafegasse o homem pelos proscênios físicos, obnubilado pelo esquecimento temporário, para que a lembrança de seus atrozes padecimentos, oriundos do passado arquetípico que transporta nos arcanos da alma, somada à dor do desterro e das perdas de seus valores divinos, não o impedisse de reedificar em si a perfeição a que se destina.

Seu necessário olvido transitório, todavia, inunda-o de ingentes angústias por não divisar com clareza as razões de sua laboriosa vilegiatura e desconhecer sua legítima filiação. Imerso em um universo palpitante de mistérios, seu espírito suplica por compreensão. Por isso, em todos os tempos, viu-se o viajor da vida premido pelas grandes questões filosóficas sem que pudesse até então solvê-las. Mirando o infinito, ele questiona de onde vem, para onde está indo, por que sofre, e qual a finalidade da existência de tudo. E analisando as entranhas de si mesmo, pergunta-se quem de fato ele é, qual é sua íntima natureza e o que faz neste mundo. As religiões, como genuínos recursos dos Céus, uma vez que o homem cresceu, acorreram a acudi-lo, soprando-lhe nos ouvidos da alma as soluções últimas para suas cruciais interrogações. Todavia, sua fé ainda claudicante permanece exigindo-lhe provas cabais de que as respostas a seus fundamentais questionamentos somente podem ser divisadas pelos olhos do espírito, nas ocultas paisagens do Imponderável.

Ciente de suas prementes necessidades no sagrado campo da crença, o Cristo compareceu à Terra, trazendo-lhe seguramente a mais alta verdade acessível à sua compreensão, a fim de acalmar-lhe as agruras da ignorância e orientar-lhe devidamente o caminho a seguir, para que alcance sem demora seu destino final. Em singelas parábolas, o divino Mestre teceu um cabedal de instruções superiores, suficientes para que o passageiro da Terra assegurasse a evasão de seu longo exílio, libertando-se de seus tormentos. Constituiu-se assim o cristianismo como o repositório das elevadas lições que nos compusera o Pastor celestial.

O homem, entretanto, distraído em sua peregrinação, ocupado em resolver questiúnculas de sua jornada e interessado em angariar valores irrisórios e perecíveis, deixou que o precioso tesouro do Evangelho se restringisse em seus templos de pedra. Descuidado, não zelou para que o bolor do tempo não se depositasse sobre ele, amofinando-lhe as esplendorosas luzes.

Na caminhada dos séculos, sua mente amadureceu na observação e estudo da realidade que o envolve, levando-o a adotar o materialismo científico como novo guia, norteador de seus passos na Terra. Abraçado, no entanto, à análise superficial da complexidade universal, o viageiro do mundo denso não pôde até então antever as finalidades últimas de sua grande marcha pelas plagas do tempo e atingir assim a compreensão cabal de sua existência. Desse modo, grassa o agnosticismo no mundo de nossos dias, convencendo o racionalismo moderno a dispensar os apelos fideístas da mensagem do Cristo e a confiar unicamente nas revelações da ciência. Enquanto avança a pesquisa científica, procurando incansavelmente nos estilhaços fenomênicos da matéria a resposta derradeira para todas suas fundamentais questões, o cristão ortodoxo, encerrado em sua acanhada interpretação literal dos Textos Sagrados, insiste em apregoar corolários que, embora fundamentados nas palavras do Cristo, já não podem mais falar a linguagem dos novos tempos, distanciando a divina mensagem evangélica do palco dos interesses hodiernos.

Perde o romeiro da vida, que segue carente de entendimento, trazendo a alma vazia de sabedoria, pronta a algemar-se aos lamentáveis tentáculos do hedonismo, ou a inundar-se de amarguras, as quais terminam por desorientá-lo, carreando-o a inevitáveis desalentos.

Urge assim, nos dias atuais, como nunca, restaurar as verdades propaladas pela Boa-Nova do Reino, refazendo-lhes o esplendor original. As vozes do além, cientes dessa necessidade, desde o advento da Terceira Revelação, manifestam-se intensamente na carne, para que nossos olhos se abram e vejam a resplandecente luz a transparecer das palavras do meigo Rabi, as quais a poeira dos séculos não pôde apagar.

Através de filtros mediúnicos preparados para esse fim, o plano maior vem soprando aos peregrinos da Terra notícias do lado de cá, para que se convençam, enfim, de que nos ensinos do divino Mestre encontraremos a verdade última que sempre buscamos no trânsito dos evos. No entanto, a razão humana ainda não foi suficiente para absorver por completo a verdade que transluz do Evangelho, pois, afeita a paulatino crescimento, somente se pode alcançá-la por sucessivas aproximações. Ademais, compreendemos que o Messias nos trouxe revelações preparadas para atender nossa evolução nos milênios, por isso não somos capazes de absorvê-las integralmente, como gostaríamos, de um único golpe. Então se faz necessário repassar continuadamente as lições da Boa-Nova, pois renová-las periodicamente, conformando-as ao nosso avanço evolutivo, torna-se condição essencial para conquistarmos sem demora a chave que o Messias nos trouxe, solucionando-nos os grandes mistérios que nos espicaçam o intelecto e nos estiolam a alma.

Essa é a tarefa a que se propôs Adamastor, ao compor a obra que tens em mãos. Tomando por base o Evangelho, ele discorre sobre a evolução, a mola mestra deste trabalho, apresentando-a como a grande viagem da alma que retorna para Deus. No entanto, sua exegese segue um roteiro próprio até então desconsiderado pela maioria dos pesquisadores atuais, pois seus estudos sustentam-se fundamentalmente nos critérios de nossa evasão do Absoluto. Desse modo, surpreender-nos-emos ao constatar que mediante essa avançada dialética, ainda pouco compreendida na Terra, várias incongruências de nossa escalada progressiva encontram melhores soluções no contexto da impreterível perfeição divina.

Partindo do estudo das origens, seu enredo analítico e ao mesmo tempo sintético, sustentado pela transcrição literal de ricas palestras empreendidas no plano espiritual, termina na clara exposição do fim último da evolução, demonstrando-nos com clareza o mapeamento completo de nosso roteiro ascensional. E no detalhamento das eficazes ferramentas de que se serve a mecânica evolutiva na consolidação de seus objetivos finais, enriqueceremos em muito nossos conhecimentos, com grande proveito para nosso crescimento espiritual.

É exatamente nesse contexto que vetustos conceitos do cristianismo tradicional, muitos deles esquecidos ou incompletamente interpretados, como Reino de Deus, Ressurreição, Vida Eterna, Salvação, Santíssima Trindade, Criação divina, queda dos anjos, Paraíso perdido e outros temas correlatos retornam à baila, reencontrando seu devido lugar na dialética evolucional dos nossos tempos, vestidos e renovados para enfrentar a nova realidade em que hoje vive o homem terreno. Portanto, ao contrário do que poderá parecer ao leitor desavisado, esses clássicos preceitos evangélicos são-nos agora apresentados e reestudados pelo autor espiritual segundo critérios de uma revolucionária e hodierna exegética, muito distante da apoquentada teologia medieval.

Dessa maneira, Adamastor resgata-nos, nestas linhas, o Evangelho do Cristo como o indispensável fanal, norteador de nosso progresso, aferindo-nos que, no chamado “edifício da redenção humana”, acham-se estabelecidas todas as verdades de que necessitamos para transpor o grande abismo que nos aparta do Absoluto.

Um roteiro romanceado, fundamentado nas transatas peripécias empreendidas por personagens já apresentados nos livros anteriores do autor, serve-se como o cenário onde se desenvolve a obra. Ao mesmo tempo em que se faz palco de reflexões profundas sobre os estudos desenvolvidos, ele traz o desfecho final do enredo que se iniciou em seu primeiro trabalho, Ícaro Redimido. Portanto, leitor amigo, aqui encontrarás o episódio inicial que jungiu os destinos desse grupo de espíritos, justificando-se todo o drama em que se envolveram nas encarnações subsequentes, já relatadas pelo autor.

Um capítulo importante do cristianismo medieval salienta-se ainda nestes relatos, trazendo à tona informes pertinentes aos Templários e às famígeras Cruzadas, enriquecidos por retalhos da história da França, sob os olhos de quem os observa do outro lado da vida. Em meio a essa secular saga, Adamastor apresenta-nos notória entidade, até então oculta nas dissertações anteriores, o Irmão Francisco, que teremos a honra e a alegria de conhecer, e a todos nos encantará com sua simplicidade e portentosa sabedoria, a fecundar-nos com o admirável fulgor espiritual que o caracteriza.

Certamente que os cristãos fundamentalistas, vendo que a evolução é o guia e o tema principal deste trabalho, sentir-se-ão contrariados em seus preceitos criacionistas. Já os evolucionistas, percebendo que velhos corolários da teologia cristã são suscitados para o estudo da evolução, colocar-se-ão igualmente descontentes. Não importa, porém, pois aqueles que puderem compreender saciar-se-ão com uma avançada síntese, capaz de satisfazer a imensa sede de entendimento que nos move e que nada nega, conduzindo-nos a uma lídima sabedoria superior. Afinal, faz-se premente colocar acima da efêmera razão humana, de seus instáveis cânones institucionais e dos volúveis aplausos do mundo a verdade que o Cristo nos trouxe. Eis tudo o que interessa a quem serve à vida com os olhos na Eternidade.

Os aficionados da codificação kardequiana poderão questionar o imperativo de se retomar avelhantados conceitos do cristianismo, para muitos já superados por suas lições basilares. Engana-se, no entanto, aquele que julga que já atingimos todo o conhecimento necessário à nossa laboriosa viagem pelas planícies do Infinito. É inegável que irrevogáveis princípios foram-nos apresentados pelas entidades superiores que ditaram os alicerces da doutrina espírita. No entanto, não puderam falar-nos tudo de que carecemos, pois, além da natural insuficiência dos filtros mediúnicos que lhes captavam as egrégias mensagens, o homem do século XIX não detinha cabedal suficiente para absorver uma porção ainda mais ampla das afirmações essenciais do Evangelho.

Qualquer que seja a particular verdade em que te apoias no momento, irmão da Terra, silencia teu saber provisório e ouve o que te grita aos ouvidos a sabedoria da vida. É compreensível que, estacionado nas ilusões da carne, não te apercebas de tuas imensas necessidades evolutivas e julgas erroneamente que todos os mistérios que te cercam já se acham solucionados. Todavia, não demoras a atravessar o portal do túmulo, e então te surpreenderás ante a patente insuficiência dos conhecimentos humanos para enfrentares os enormes desafios que a realidade do além nos antepõe. Infelizmente, ao contrário do que esperas, as brumas da ignorância far-se-ão mais intensas ao teu redor, arrojando-te ao encontro de enigmas ainda maiores que aqueles que te perseguiam na dimensão densa. Encontrarás um mundo também transitório e uma vida que permanece pedindo-te explicações para seus intricados fenômenos, multiplicados então ante teus olhos desnudos de carne, os quais poderão melhor divisar não apenas os arredores, mas igualmente as deficiências, as dores e as muitas carências que transportas nos arcanos de teu ser.

Ante as extensas paisagens da esfera espiritual, intrigar-te-á o fim de tua exaustiva caminhada. Percebendo a transitoriedade do novo mundo que te acolhe, continuarás a questionar sobre tua legítima destinação. Vendo-te vestido em trajes humanos, igualmente sujeitos à fatuidade do tempo e à mutabilidade da forma, sentirás sede de Eternidade. Surpreendido pela visão embaciada de ti mesmo, indagarás, aflito, quem de fato és e quem realmente habita tuas entranhas. Subordinado a padecimentos ainda mais atrozes que os da carne, questionarás até quando sofrerás as injunções do próprio mal que continuas, ainda que a contragosto, a exalar de teus arraigados e milenares hábitos. Sombras por vezes intoleráveis envolver-te-ão, revoltando-te ante a premente indigência de luz que a todos nos caracteriza. Terrível vazio ocupar-te-á a alma, ao ver-te depauperado dos valores reais do espírito. E, enfim, a patente ausência de Deus ser-te-á intolerável dor, impensável na Terra.

Então, as grandes questões que em todos os tempos acompanharam o homem em sua jornada terrena aflorarão ainda mais evidentes em tua consciência desperta, demonstrando-te que os conhecimentos que ora deténs não te são suficientes para solucioná-las. Sentirás quão distante estás da verdade última que haverá de libertar-te das amarras da inferioridade. Somente então compreenderás que não te é lícito dispensar as lições essenciais que o Cristo nos deixou.

Eis por que te recomendamos enfaticamente, viageiro do tempo, a leitura atenta das lições que Adamastor aqui nos traz. Não deixes passar essa nova oportunidade que a vida te concede para o crescimento do espírito, resgatando-te antigas lições do cristianismo que muitos deixaram à beira da estrada. Com elas fixarás de forma mais segura ensinamentos que te capacitarão a uma compreensão mais avançada dos grandes mistérios de Deus, do Universo, do ser e da dor.

Favoreça-te, irmão, com essa surpreendente luz, a refletir nada mais que a sabedoria do Evangelho redentor, enquanto estás a caminho, de modo a precaver-te dos futuros dissabores que a grande aventura do túmulo te reserva, comprometendo-te a felicidade e o almejado equilíbrio. Ainda que te encontres desfeito pelas muitas injunções da vida; embora as necessidades do trabalho ocupem-te todas as horas do dia, ou vicissitudes se façam tuas companheiras constantes, perturbando-te o conforto íntimo; mesmo que te sintas satisfeito com as revelações que os institutos religiosos do mundo até agora te ofertaram; e conquanto pressintas que a abordagem do autor a princípio pareça contrariar tudo o que até então aprendeste, atira-te a esta síntese filosófica, científica e religiosa. Não cometas o erro fundamental de julgar que nada mais precisas aprender e que já estás devidamente abastecido para enfrentar os vultosos desafios que o Infinito nos impõe.

Silencia o renitente orgulho, e atenta, irmão, para esta nova mensagem que o autor, movido unicamente pelo desejo de fazer o bem, oferta-te à alma, a fim de acelerar-te os passos na grande marcha de retorno à Casa paterna.

Que a paz inunde-nos a alma!

Belo Horizonte, 20 de julho de 2010

Bezerra de Menezes

Médium: Gilson Freire

Grupo da Fraternidade Espírita Irmão Vítor

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